terça-feira, 28 de setembro de 2010

PLENITUDE

Preciso abrir as janelas da alma
deixar o vento adentrar
em meu tempo completo, incessante,
respirar flutuando o céu liquefeito
com as luzes de um ocaso
que chega sem avisar

Guiar-me pelas estrelas
soltando as amarras
em busca do mar da tranqüilidade,
levando comigo apenas
bagagens da vida, lembranças sem idade
e o amor à beira do tempo
em grades de brisa

Canto agora em silêncio,
as retinas se calam
e o tempo com seus ponteiros
e pêndulos tortos,
anunciam a tua companhia ausente
no pensamento que me fala.

Conceição Bentes

domingo, 12 de setembro de 2010

DÁDIVAS DE OUTONO


Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

PARALELAS

Quando te encontro assim,
num doce perfume de existência,
guardado carinhosamente no
cantinho do meu peito,
nada temo da vida.

Somos duas paralelas atravessando o tempo,
sem medo nem distâncias,
guiadas pelas mãos do dia,
suave, acima, sempre.

Até que a morte nos separe.

Rosy Moreira

terça-feira, 7 de setembro de 2010

MEUS REVERSOS

Sou assim faço rima
da alma a melhor melodia
pedaços inteiros de mim
e nos meus reversos
a poesia que nasceu de ti.

E então eu amo,
me revelo
me mostro inteiro
em plena luz do dia
ou na glória
de uma noite
de lua cheia
lobo alcatéia
uivo de amar.

Homem lobo verso rima poesia
inteiro a noite ou meio dia
meus reversos de amor
poesia que nasceu de ti
minha melhor melodia.

ANDRÉ RUIZ

VEM SEM RECEIO...

Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua , e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.

Lya Luft

ASAS DA ALMA

Com todos fui apenas uma prisioneira,
Mas em tuas mãos minh’alma criou asas,
Sobrevoei com elas por sobre as casas,
Brancas com patamares de amoreiras.

O crepúsculo pintava o horizonte de cores,
De uma vermelha cor, de sangue bem vivo,
E rabiscos amarelos, formavam um atrativo,
Semelhante a um mar, de belas flores.

Entretanto não entendeste o meu recado,
Que ficou perdido entre o sussurrar do vento,
E senti meu coração doído naquele momento,
Que cortastes as asas, que me havias dado.

Marco Orsi

domingo, 5 de setembro de 2010

SEM ASAS APENAS COM A PENA E NANQUIM

E como um pássaro
me dispo das asas
para poder voar
nas palavras
que saem da tua boca.

Acordando assim páginas que vão
bem mais além
do que o simples ato de escrever,
alguns pecados, pequenas
confissões, segredos de amor.

Quem se conhece
por poesia ama,
realmente ama
e se apaixona primeiro
pela alma
sem asas apenas
pena e nanquim.

ANDRÉ RUIZ

BENDITA


Quando me vi,
vela apagando,
você chegou,renovando minha fé,
feito oração na catedral da descrença.

Resgatou esquecidos desejos,
apagou o pó das minhas revoltas,
varreu as migalhas das minhas inquietações.

Parece-me que seu amor
tem a rima certa,
quando me vejo fraca.

Não avisa,não insinua,
apenas vem,de mansinho,
caminhando invisível dentro de mim.

Bondade de Deus não me faz sagrada,
mas me torna bendita.

Rosy Moreira